Foi quando a porta bateu que sentiu pela primeira vez. Sabia que o momento se fechava e, ao contrário do que seria natural, não parecia haver caminho ou estrada pela frente, apenas um vazio pesado, uma quase vontade de ficar ali, no hall da entrada, no hiato imediatamente a seguir aos dias felizes.
Para sempre, ele dizia. Eram tantas as palavras, um amontoado de palavras, frases construídas todos os dias com a aparente leveza do amor simples, da paixão que irrompe do tempo real e se formula num espaço novo, lento, tão lento, tão vivo. Eram tantas as palavras a arder ainda e, agora, a contrastar com o silêncio. Dar um passo, ligar a luz, caminhar até à sala, qualquer movimento parecia carregar a semântica do renovo e não havia no sangue ou na alma qualquer desejo de continuar. Queria ver estrada, sentir o conforto dos pés no chão, no solo a pisar um qualquer futuro, mas não o sentia. Nem o chão, nem alma ou sangue ou futuro. Apenas um buraco frio, inexpressivo, perfeito. Um buraco pintado num azul veludo tão profundo que se imagina negro, um macabro espaço de tortura, um lugar de quase morte onde tudo é ausente a não ser o tempo. Ah! Os dias felizes... A hermenêutica da vida a explicar Beckett e ela, cansada, elevada nos seus destroços ainda de carteira na mão, a não querer saber.
Silêncio. Impôs o silêncio para os ouvir. Silêncio... Ainda consegue sentir o riso livre, o respirar feliz, ali, no sofá sozinho. Há umas horas era inteira e toda a verdade do mundo cabia no seu sorriso. Ocorreu-lhe a profecia. Beija-me, condenou-a com os olhos cerrados, a dormir. Beija-me muito porque pode ser a última vez. E ela riu muito a beijar, a olhá-lo ao seu lado, riu com a inocência plena do amor a expressar-se em paz. Benditos foram os beijos, assim, com toda aquela paz instalada no sofá.
Optou por subir as escadas. A cama continuava preparada para receber os corpos, o que a impressionou muito. Permitiu o choro. A eternidade à sua frente e talvez nunca mais sentisse a segurança dos seus braços a prendê-la a noite inteira. Esse pensar quente dos braços a prender com força o seu corpo, a não permitir um único movimento... A perna a ajudar, a puxá-la, e ela a querer trocar de posição feliz por não conseguir, ela a despertar e a olhar a sinceridade do seu dormir. Sim, porque ele foi sempre mais sincero durante o sono. Regressa a profecia beija-me muito porque pode ser a última vez. Nunca teria a coragem de o assumir acordado, nem sequer perante ele mesmo.
Para sempre, ele dizia. Eram tantas as palavras, um amontoado de palavras, frases construídas todos os dias com a aparente leveza do amor simples, da paixão que irrompe do tempo real e se formula num espaço novo, lento, tão lento, tão vivo. Eram tantas as palavras a arder ainda e, agora, a contrastar com o silêncio. Dar um passo, ligar a luz, caminhar até à sala, qualquer movimento parecia carregar a semântica do renovo e não havia no sangue ou na alma qualquer desejo de continuar. Queria ver estrada, sentir o conforto dos pés no chão, no solo a pisar um qualquer futuro, mas não o sentia. Nem o chão, nem alma ou sangue ou futuro. Apenas um buraco frio, inexpressivo, perfeito. Um buraco pintado num azul veludo tão profundo que se imagina negro, um macabro espaço de tortura, um lugar de quase morte onde tudo é ausente a não ser o tempo. Ah! Os dias felizes... A hermenêutica da vida a explicar Beckett e ela, cansada, elevada nos seus destroços ainda de carteira na mão, a não querer saber.
Silêncio. Impôs o silêncio para os ouvir. Silêncio... Ainda consegue sentir o riso livre, o respirar feliz, ali, no sofá sozinho. Há umas horas era inteira e toda a verdade do mundo cabia no seu sorriso. Ocorreu-lhe a profecia. Beija-me, condenou-a com os olhos cerrados, a dormir. Beija-me muito porque pode ser a última vez. E ela riu muito a beijar, a olhá-lo ao seu lado, riu com a inocência plena do amor a expressar-se em paz. Benditos foram os beijos, assim, com toda aquela paz instalada no sofá.
Optou por subir as escadas. A cama continuava preparada para receber os corpos, o que a impressionou muito. Permitiu o choro. A eternidade à sua frente e talvez nunca mais sentisse a segurança dos seus braços a prendê-la a noite inteira. Esse pensar quente dos braços a prender com força o seu corpo, a não permitir um único movimento... A perna a ajudar, a puxá-la, e ela a querer trocar de posição feliz por não conseguir, ela a despertar e a olhar a sinceridade do seu dormir. Sim, porque ele foi sempre mais sincero durante o sono. Regressa a profecia beija-me muito porque pode ser a última vez. Nunca teria a coragem de o assumir acordado, nem sequer perante ele mesmo.
A coragem nunca foi um atributo seu. Sempre souberam. Ela sempre soube tudo, da sua falta de coragem inclusive.
Comentários
Enviar um comentário