A tua resposta chegou como bálsamo, Minha metade. Amo-te muito. E ligaste-me. Tudo parecia igual. Sabia que não estava, não podia estar, mas no meu íntimo desejava que assim fosse. A ilusão começou aí, ao sentir o calor da tua mensagem. Só o mistério nos faz viver. Justifico-me nas palavras de Lorca e assumo, num delírio calmo, a necessidade de se prolongar a incompreensão, mesmo quando a verdade, impávida, nos esbofeteia. O mistério manteve-se todos os dias, sem qualquer encontro, sem imaginar sequer ser possível um encontro. Falámos durante o mês, usando as mesmas palavras nas mesmas horas, mas com os filtros e os silêncios necessários. A verdade a forçar, a conquistar terreno, e tu e eu a forçar o amor. Tu e eu a amar o mistério suspeitando já não existir qualquer mistério, tu e eu a não saber o que fazer de nós. As palavras a fugirem das nossas cabeças, das nossas bocas e a deixarem-nos sozinhos na vida dos outros. As palavras longe dos olhos a perderem o brilho genuíno e a vida a esvaziar-se de sentido, a ser outra coisa, a sair dos gonzos tal como o tempo.













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