Citando Manoel de Barros, poeta brasileiro, ouvi hoje o Mia Couto a pensar a expressão 'errar bonito'. Referia-se ao exercício linguístico e ao zelo gramatical mas levou-me, por longuíssimos segundos, a ausentar-me do nosso foco da rotina e a sobrevoar a condição humana. O medo de errar pode ser terrivelmente castrador. Frequentemente, os territórios além fronteira tornam-se áreas cinzentas que se devem evitar a todo o custo. O que sai do comummente estabelecido retrai a aventura exploratória e condiciona a própria vivência interior. Afinal, quantas vezes fiquei de boca calada na escola com receio de dizer um disparate? E quantas vezes me inibi na vida pelo medo de fazer um disparate? Italo Calvino escreveu que antes mesmo de nos pormos a observar os outros, deveríamos saber bem quem somos nós, conhecer as nossas próprias inclinações e acções, percebendo como as controlar e dirigir, sem contudo as limitar ou sufocar. Na belíssima obra de José Gomes Ferreira, foi necessário saltar o muro, à revelia da voz de uma mãe chorosa, para que João Sem Medo aprendesse a viver em paz no seu próprio território. 'Errar bonito' faz parte da equação se desejamos abraçar a fabulosa experiência de viver... parece-me.


'Prefiro as linhas tortas, como Deus.'
Manoel de Barros






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