[cada vez mais longe dos bancos da igreja ou a favor de uma Igreja construída no coração dos homens] 

(...) Hitler foi eleito exactamente segundo os mesmos argumentos, por um povo cristão, homens de família, frequentadores de igreja. Alguns pastores perceberam o discurso de ódio e envolveram-se na resistência. Recordo-lhe Dietrich Bonhoeffer. Jesus defendeu que se devia dar a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e ensinou-nos um discurso de amor, partilhando a mesa com os que não eram considerados dignos de respeito. Sempre procurou transformar o coração dos homens, amando-os. Dá mais trabalho, eu sei, e implica confiar na força de Deus e não na nossa. Da Sua boca nunca ouvimos palavras de ódio. Zangou-se porém quando viu a promiscuidade do dinheiro junto ao templo ou quando a política se imiscuiu na casa de oração. Mesmo não frequentando uma comunidade cristã, creio em Deus. Com todo o amor que vos tenho e o respeito que merece, há em mim um profundo desânimo em relação à noção de amor que se vive nas igrejas. Há palavras radicais que não reconheço. Jesus sempre preferiu tempo de qualidade, ouvindo e colocando o homem a pensar na sua própria condição. Ensinou-nos a trabalhar o coração do outro. Individualmente. Incondicionalmente. Não ensinou a tortura e o envolvimento político. O poder é uma chatice. Dá a aparente ilusão de que podemos fazer alguma coisa ‘rapidamente’, cumprindo-se a nossa vontade. Espero não ter razão relativamente ao Brasil... Quantos inocentes vão sofrer à conta de fundamentalismos? O sangue está também nas mãos dos que elegeram Hitler. Arendt fala na banalidade do mal, do mal que se pratica porque nos demitimos de pensar... Jesus nunca defendeu o uso da força. Leio a Bíblia e encontro o contrário. Que seja Ele a mudar o meu coração se estiver errada. Até lá, estranharei qualquer envolvimento de um cristão na eleição de Bolsonaro. Estou preparada para acolher a metade do Brasil que não escolheu um regime de opressão e todos aqueles que, tendo votado a favor, venham a ser vítimas da sua escolha. Para terminar, que o discurso já vai longo, a questão não é ser pro Haddad (não me envolvo nas eleições de um país que não é o meu e o problema do Brasil é a falta de alternativa e a vontade de um povo cansado de corrupção), mas defender justamente o maior mandamento de todos, o amor. Compete à Igreja orar e não promover a guerra. 

(mail enviado a um amigo)










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