Dos gonzos saiu o tempo! Maldição... Virilio instiga-nos a considerar um novo tipo de ecologia. Uma acção menos limitada à Natureza e mais a uma Natureza-Grandeza, aos efeitos do meio artificial da cidade sobre a degradação da proximidade física e a ruptura de escala simultaneamente com o solo, com a unidade da vizinhança, com o outro, o familiar, o amigo, o vizinho imediato. É urgente uma visão alargada que considere essa poluição da distância e da duração do tempo. É urgente pensar a aceleração da corrida!

A 'tirania da velocidade' que vivemos, e que tão bem Paul Virilio soube analisar, traduz-se numa incapacidade de gestão do tempo humano e do tempo tecnológico. É humanamente impossível corresponder a um tempo máquina. Cada vez mais, a decisão exige-se imediata, sem reflexão. É o clique frenético na ponta do dedo, a nossa pequeníssima grande verdade, pela qual nos debatemos durante uns escassos minutos, que se escreve e logo se esquece. É a afirmação sem rosto e, consequentemente, o insulto fácil. É a inteligência de cartilha, o vocabulário bonito e certeiro, porém desprovido de sentimento. São amigos que se fazem num segundo e desaparecem noutro. Somos nós, seres humanos tristemente sozinhos, a tragar outros seres humanos numa algazarra cibernética.

Ainda me importo com o outro? A que distância, a que escala, em que tempo? O que é que me move? O que é que me comove? Que palavras uso? Li ontem o termo 'prevaricadores' aplicado a um grupo de crianças. Parece-me tão urgente pensar as zonas cinzentas desta babel desenfreada, esta 'Cidade-Mundo' cada vez mais dependente da técnica... É tão, tão necessário parar e reflectir sobre a ausência de um pensamento sério, sobre a crescente escassez do olhar simples, o olhar-menino, descomprometido, empático e feliz.





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