Sucede-me um bloqueio de alma em alturas de perda. A gestão é difícil e terrivelmente íntima. O luto fecha-se comigo e só desvanece quando quer. Dou conta que enfim suaviza por um acaso, num momento simples de vida, quando surge um cruzamento da rotina com a memória e essa perda parece já não arder. Há dois dias, vi uma fotografia de uns amigos em Hydra e imaginei os dias bonitos de Cohen na sua ilha.
Leonard Cohen morreu em Novembro do ano passado e, como disse Tolentino de Mendonça, 'eu faço parte de uma geração de órfãos'. Nesse dia, fiz um intervalo nas tarefas. Assumi finalmente o meu tempo da cura, marquei-o na pele com um dos seus poemas feito imagem e bebi um copo de tinto com bons amigos. É sempre a morte que nos ensina a vida. Brindei à sua poesia, à sua música, à sua presença suave e generosa, e calei-me. Até hoje.

'O troubled dust concealing
An undivided love
The heart beneath is teaching
To the broken heart above.'
Come Healing, L. Cohen

(imagem: Porto, 11.11.2016)







Comentários

Mensagens populares